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Tuesday 12 October 2010

Para o Max

Max, como carinhosamente chamamos o meu Pai, sempre acreditou em nós. Ele não só comprou todos os nossos instrumentos musicais mas foi em todos os shows que pode ir, sempre escutou nossas músicas, ele ama nossas músicas.

Max teve uma infância muito pobre, perdeu a Mãe aos seis anos e foi abandonado pelo Pai aos 11 anos para ganhar a vida sozinho. Seu primeiro emprego foi vendendo bananas na ruas de Duque de Caxias, nossa cidade natal no subúrbio do Rio de Janeiro. Um mecanico ficou com pena de sua situação e o ajudou acolhendo-o em sua garagem, ja que apezar de ter 11 anos parecia mais que tinha uns sete ou oito por conta da subnutrição. Ele então aprendeu tudo sobre carros, uma de suas maiores paixões, depois é claro do futebol e do time do Flamengo. Ele jogava futebol até muito bem e foi jogando com o meu Tio que ele conheceu a minha Mãe, com somente 16 anos e ela 13. A princípio ela não queria saber dele, pois queria ser uma atriz ou cantora, mas como ele era persistente, ficava dizendo que ia se casar com ela um dia, até que um dia ela acabou se apaixonando pelo seu jeito meio Italiano. Meu Pai sempre foi um lutador, ele sempre foi determinado a dar ao meu irmão e a mim tudo que ele não pode ter quando criança, e foi exatamente o que ele fez , não só para nós como para todos os nossos amigos. Todo mundo que o conhece sabe da sua paixão por presentear sem receber nada em troca.

Amigos que dividiram o palco com a nossa banda sabem que nós sempre íamos para a nossa casa para comer e beber a qualquer hora do dia ou da noite. Nós tínhamos um baleiro, destes com compartimentos divididos, com 2o compartimentos, em nossa cozinha, e sempre cheio de balas e chocolates. Nossos amigos amavam chegar em nossa casa e abrir cada compartimento e realizar um sonho de criança, comer o que quizer.

Depois de trabalhar por quase 50 anos, me Pai se aposentou e veio para a Europa ficar nos curtindo e a seu único neto, meu filho, quando recebeu uma carta do governo Brasileiro dizendo que sua pensão seria cortada pois havia fraude no departamento que a lançou. Ele tem lutado pelos últimos 3 anos para provar sua inocência e receber de volta sua pensão tão merecida mas no momento para sobreviver ele vende caldo de cana e pastel na feira, eles trabalham muito duro e não tem muito mas nunca mudaram sua personalidade sempre com prazer em agradar a todos.

Eu não acredito que meu Pai sequer tenha pensado em sucesso comercial para nós, acho que por ele, ele nos sustentaria para sempre, acho que seria isso que ele gostaria, pois é do tipo que tem vergonha de aceitar ajuda quando ajuda tanto a todos. O seu sonho porém era que todos ouvissem e valorizassem nossa música, alias a música de todos. Nós sempre pegávamos ele chorando de emoção assistindo shows de calouros quando alguém de talento conseguia algum sucesso. Talvez sua estória o tenha feito sensível as dificuldades da vida.

Como Max está se recuperando no hospital gostaríamos de tocar uma música que fizemos para ele chamada Sugar Cane (Caldo de Cana), assim como ele, bem doce!




Sugar Cane (Willesden Green) by Loosh

Volte para nós são e salvo Max, nos te amamos!
Paulo, Simone e Tayo, (assine seu nome abaixo), seus filhos no dia das crianças

Saturday 28 August 2010

De Colônia Penal a Kafka

Continução do blog 1 - Do Início...

...Foi então no dia 13 de Agosto de 1985 com Paulo e Tayo tocando juntos violão e piano que nossa aventura musical nasceu. Eles decidiram chamar essa dupla Colonia Penal, título de um livro de Franz Kafka , mas depois eles resolveram optar pelo nome de Kafka, que era um dos escritores preferidos do Tayo.

A primeria música que eles tocaram juntos foi um cover the Lady Stardust do David Bowie, não existe uma gravação desta época, mas depois como homenagem nos gravamos uma outra versão desta música. Outras músicas que fizeram em seguida foram Procissão e Hora do Recreio mas a última nunca fez parte de nenhum show. Recentemente nos a prestamos homenagem, já que é uma das nossas músicas mais antigas, e incluímos alguns de seus versos na nossa música Victoria.

Quando chegou a hora de recrutar novos membros para a banda, eu como uma roadie exemplar, chamei um amigo da minha Faculdade que era de família Inglesa e tinha o visual perfeito para ser cantor de uma banda, Brent Hieatt. Brent não só tinha o visual perfeito (Um pouco parecido com o Orlando Bloom no papel de Legolas no Senhor dos anéis, mas de cabelo curto), mas ele também tinha ótima presença de palco, cativante, quando mais tarde tocamos shows ele mantinha os olhos de todo mundo da platéia grudado nele e não devia nada a nenhum cantor de uma banda da Factory Records.

Eu, Sérgio e Brent
Tayo recrutou um velho amigo, antigo mesmo, dizem que suas Mães eram amigas e ficaram gravidas juntas, e eles nasceram uns quatro dias de diferença um do outro. Sergio seria nosso baterista, não tinha muita experiência anterior, alias não tinha nem uma bateria, mas ele aprendeu e praticava em almofadas arrumadas na posição de uma bateria. Quando nós finalmente arranjamos uma bateria ele tocava com tanta força que tinha que trocar as peles quase toda semana, já que tinha se acostumado a tocar almofadas que não faziam som nenhum. Existem varias estórias sobre esse hábito dele de tocar com força, a mais notória foi em um de nossos shows em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, quando o show foi cancelado porque quando o baterista da banda que estava dividindo a noite e a bateria conosco o viu tocando na passagem de som, recusou nos emprestar a bateria. Nós estávamos em outra cidade e não havíamos trazido a nossa! Falando sério agora, Sérgio tinha um estilo único que se desenvolveu a partir de horas ouvindo seu baterista favorito Neil Peirt da banda Rush. Ele também instintivamente incorporava sua própria batida Brasileira na mixtura o que se tornou depois nossa marca registrada, talvez pelo seu amor pelo carnaval e sua herança Bahiana.

Com o Brent no vocal, Tayo na guitarra, Paulo nos teclados e Sergio na bateria eles começaram a procurar por um baixista. Paulo pensou talvez em assumir um estilo "Doors" com o baixo tocado no teclado, mas por fim foi a obsceção do Tayo com o terceiro disco do Gang of Four (que não era o melhor mas quando se tem 20 anos se comete erros...) que os levou a experimentar várias "Sarahs Lee". Um dia, cansado de explicar o que ele queria para os candidatos, Paulo pegou o baixo da menina que estava tentando fazer parte da banda, e mesmo sem nunca ter tocado antes, saiu tocando como se ele tivesse nascido com a coisa pendurada no pescoço. Eu ainda me lembro como depois de 30 minutos tocando ele tinha bolhas de sangue em seus dedos (Talvez isso explique porque ele depois resolveu tocar com uma palheta). Parecia então lógico que ele se tornasse o baixista do Kafka, mas quem então tocaria teclados? Como nossas músicas tinham muitos teclados e a única pessoa que sabia tocar teclados disponível nas redondezas era sua querida narradora que vos fala... Em um dia fui promovida de Roadie a Gillian Gilbert. Eu fiquei super contente, mas ao mesmo tempo com medo de pensar em tocar em shows e enfrentar o publico de cara a cara com a minha Síndrome de Aspergers, mas surpreendentemente quando existe uma motivação envolvida, neste caso a música, voce acaba por superar suas limitações.

Compramos nossos instrumentos pelo jornal Balcão, eu me lembro que eu tinha um Casiotone, eu acho que tinha uma seleção de 6 a 8 sons e também rítmos pré-programados, nós até usamos um deles como introdução em uma de nossas músicas, como uma brincadeira, é claro.

Nos nos encontramos na casa do Brent no Rio, em sua garagem mais precisamente, será então que isto significa que éramos uma banda de garagem? Um vizinho havia deixado uma bateria lá, será que foi pré-destinado? Nós ensaiamos lá, semana após semana, até que uma vizinha, a Dona Branca (De repente saiu do jogo do Detetive?) reclamou com a polícia, sem dúvida do estilo "suave" do Sérgio tocar, mas nós continuamos a ensaiar então em um estudio profissional, e o Kafka continuou a tocar...
Continua no próximo blog...
Fotos: 1 - Tayo Carvalhal, 2 - Tom Hieatt

Friday 20 August 2010

Do Início

A musica ja era uma tradição antiga na minha familia. Minha Mãe cantava no radio e teatro amador e estudava piano para copiar sua irmã mais velha por parte de Pai que era pianista concertista. Quando sua irmã infelizmente morreu, bem nova, meu avô vendeu o piano e proibiu minha Mãe de estudar piano pois ele não conseguia então ouvir o instrumento que so o trazia memorias ruins. Minha Mãe então trouxe o amor à música para nós e quando meu irmão tinha 5 anos ela nos comprou um piano. Nós dois começamos a fazer aulas imediatamente, o que fizemos por mais de dez anos. Naquela época eu não fazia a menor idéia que além de estar realizando o seu sonho por nós, minha Mãe estava comprando, na forma de um instrumento musical, minha cura do autismo e minha escolha de carreira para o resto da minha vida. Eu tinha uma forma de autismo mais leve chamada Síndrome de Asperger e as aulas de piano promoveram a integração inter-hemisferica dos lados direito e esquerdo do cérebro, que foi super importante na transformação de uma criança super tímida na pessoa sociavel em que me tornei. Não querendo me comparar com um gênio mas Albert Einstein é conhecido por sua inteligência fenomenal mas ele não pôde falar até os 4 anos de idade e foi muito mal na escola, até que começasse a estudar piano. Existe muito mais na música do que simplesmente o prazer de ouvi-la ou toca-la.

O meu irmão Paulo (também conhecido como Squirrel, ou Esquilo em Inglês) já tinha um interesse em música bem mais antigo quando costumava pegar um cavaquinho e fingir que era um violão copiando nosso Tio que tocava e cantava em festas de família boleros e músicas Espanholas de sua herança familiar.

Outras grandes influências de nossa infância foram grupos de samba que nossos Pais e Parentes tocavam em festas de aniversário e nas festas de fim de ano como Os Originais do Samba ou o grupo de chorinho Suvaco de Cobra que tocou muitas vezes ao vivo em muitas festas na nossa cidade Natal de Duque de Caxias, suburbio do Rio de Janeiro. Nos também crescemos ouvindo os tambores de terreiro de um Centro Espírita vizinho. Sem questionar a filosofia ou a religião, a batucada e os cantos dos encontros semanais eram de uma beleza exótica e é claro sendo criado no Brasil, especialmente no Rio de Janeiro, voce não pode evitar ser influenciado pela magia do Carnaval, Escolas de Sambas, poetas do Samba como o Cartola e a Bossa Nova, o Jazz Brasileiro.

Quando meu irmão entrou na Faculdade conheceu nosso parceiro na banda Loosh, Tayo (Também conhecido como Kat Stoopid) e formou o que viria a ser considerada uma amizade de irmãos baseada no interesse comum na música, no futebol, principalmente no Flamengo (Que Vascaìnos, torcedores do Fluminense, Botafogo, America, Portuguesa e outros times não disgostem de nossa banda por isso, se é alguma consolação eu sou Botafoguense!), literatura e poesia. Tayo tinha escrito letras muitos anos antes, quando ainda bem novo, que eram surpreendentemente maduras, talvez por causa do número de livros que havia ja devorado e Paulo havia feito músicas no violão e piano, então foi só uma questão de tempo para que eles começassem a trocar o material entre eles. Talvez você esteja imaginando que eles se conheceram em uma Faculdade de Belas artes ou Música mas eles estavam estudando Engenharia na UFRJ, então talvez foi a falta de interesse nas aulas de calculo que os fizeram passar mais e mais tempo fazendo música.



Ainda me lembro a primeira vez que o Tayo foi nos visitar em nosso apartamento em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. Eu fiquei tão fascinada pelo que eles tocaram e os discos que ele tinha trazido, David Bowie, Lou Reed, Roxy Music, Brian Eno entre outros e uma nova banda de Manchester chamada New Order, que eu imediatamente me elegi a Roadie da futura banda. Quando eles decidiram que nome dar ao projeto, o primeiro que soou mais definitivo foi "Colonia Penal" título de um livro de Franz Kafka um dos autores preferidos do Tayo. Então assim nasceu no dia 13 de Agosto de 1985 (Será que era uma Sexta Feira?) nossa primeira aventura musical...

Continua no proximo blog...

Fotos: 1 - Autor desconhecido, 2 - Autor desconhecido, 3 e 4 - Simone Taylor